Evolução do Cenário EconômicoNo cenário internacional, o ciclo de aperto monetário dá sinais de estar se aproximando dos seus momentos finais, com os efeitos da agressiva campanha de aperto das taxas de juros começando a tomar corpo. No lado do crescimento econômico, a perda de fôlego já se mostra evidente, com a desaceleração apontada há algum tempo pelos indicadores de confiança de empresas e consumidores materializando-se mais claramente nos indicadores oficiais. Nos EUA, o setor imobiliário aprofunda a queda de vendas e novas construções, impactados pelo forte aumento das taxas de hipotecas. As vendas do setor varejista, após impressionante resiliência, começam a recuar, enquanto a produção manufatureira coleciona meses seguidos de desemprenho modesto.
Entre as demais economias avançadas, o Reino Unido já apresentou queda no PIB no terceiro trimestre, ao passo que a Zona do Euro não deverá escapar de um cenário recessivo nos próximos meses. No mundo emergente, economias que até recentemente vinham se recuperando em ritmo elevado, como é o caso de Brasil e Chile, já mostram sinais contundentes de desaquecimento. Na China, as medidas de flexibilização da política de Covid-Zero têm levado ao rápido aumento do número de casos, sem produzir ganhos significativos de mobilidade até o momento. O setor imobiliário, principal motor do crescimento econômico do país nas últimas décadas, continua sofrendo as consequências do processo de desalavancagem.
A desaceleração da atividade global, juntamente com o alívio das disrupções das cadeias de suprimento e logística, vem contribuindo para o alívio consistente da inflação de bens ao redor do globo. Esse contexto tem permitido à maior parte dos bancos centrais interromperem o processo de ajuste monetário ou desacelerarem o ritmo de altas, indicando maior proximidade do final do ciclo de aperto.
Entretanto, ainda é prematuro declarar qualquer vitória no combate à recente onda inflacionária. Subsequentemente a esse primeiro estágio de recuo das pressões nos preços industriais, ainda restará uma segunda fase, de controle da inflação de serviços, a qual demandará um forte desaquecimento do mercado de trabalho, sem o qual os salários continuarão crescendo em ritmo incompatível com a meta de inflação.
Entendemos que o processo de convergência da inflação exigirá perseverança dos bancos centrais, que serão forçados a manter as taxas de juros em níveis elevados por um longo período. Diante desse cenário, crescem os riscos de uma desaceleração da atividade econômica global mais pronunciada do que a atualmente precificada pelos mercados. Nos EUA, em particular, mantemos o entendimento de que o Federal Reserve deverá levar a taxa de juros para um patamar superior acima de 5%, sem reduções ao longo de 2023.
No Brasil, o mês de novembro foi marcado pelas primeiras ações do governo de transição, em especial a apresentação da “PEC da Transição”. A iniciativa, que propõe uma elevação do teto de gastos em torno de R$ 200 bilhões pelo prazo de 2 anos, traz de volta o retorno das preocupações com a sustentabilidade da dívida pública, que certamente será colocada em questionamento caso o novo arcabouço fiscal não introduza medidas críveis de controle dos gastos públicos. Como esperado, os mercados reagiram de maneira bastante negativa ao evento, com forte elevação do prêmio de risco dos ativos domésticos.
Também chama a atenção os riscos de deterioração no âmbito parafiscal, com a possibilidade de revogação da TLP e o consequente retorno das operações de crédito fortemente subsidiado do BNDES.
Apesar do recuo da inflação e da já percebida desaceleração da atividade, a potencial deterioração dos fundamentos macroeconômicos deverá se traduzir em maior cautela por parte do Banco Central, com o consequente adiamento de um eventual ciclo de corte da Selic. Ainda, não descartamos a possibilidade do BC ser forçado a retomar o ciclo de alta caso o novo governo falhe em assegurar o compromisso com a estabilidade fiscal.
Estratégia do FundoNo mercado acionário internacional, voltamos a adicionar posição vendida no índice norte-americano. Mesmo diante da proximidade do final do ciclo de alta de juros nos EUA, a manutenção das taxas elevadas por um longo período, aliada às preocupações com o crescimento global continuarão a impactar negativamente a dinâmica de preços das ações. Ainda, adicionamos posição comprada em uma carteira de empresas do país com balanços robustos e alto retorno de capital.
No mercado acionário brasileiro, em função da deterioração do cenário doméstico, adicionamos posição vendida no Ibovespa. Sem perspectivas de cortes de juros no horizonte próximo e com a atividade econômica desacelerando mais fortemente, o cenário para o preço das ações torna-se bastante desafiador.
No mercado de juros internacionais, continuamos explorando o tema do final de ciclo de aperto em alguns mercados selecionados, com posições aplicadas nas curvas de EUA, México, Chile, Austrália e Canadá.
No mercado de câmbio, temos explorado o tema da exaustão do dólar forte de forma oportunista. No momento, carregamos leve posição vendida no dólar contra o yen.