Notícias

ABR 21
PDF |

Otimismo com Orçamento faz dólar e juros futuros recuarem

Discurso do novo presidente da Petrobras agrada e ações da estatal sobem 5%

Por Marcelo Osakabe, Lucas Hirata, Victor Rezende e Felipe Saturnino

O noticiário local ligeiramente mais otimista, principalmente em relação a um desfecho sem ruptura da novela do Orçamento, levou dólar e juros futuros a recuarem no primeiro pregão da semana. Na bolsa, a reação positiva ao primeiro discurso do general Joaquim Silva e Luna como presidente da Petrobras também garantiu ganhos firmes à estatal, mas não impediu o Ibovespa de fechar em queda leve, em linha com uma correção dos mercados acionários em Wall Street.

No fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 recuou de 4,64% para 4,635%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 cedeu de 8,60% para 8,47%. Já o dólar comercial caiu 0,65%, a R$ 5,5480.

“É um ajuste depois de muita coisa ruim entrar no preço e esse cenário pessimista, ao que parece, não vai se materializar”, diz Patrícia Pereira, estrategista da MAG Investimentos. Em sua avaliação, o mercado viu as notícias a respeito de um encaminhamento de veto parcial do Orçamento como favoráveis “na margem”. O alívio, no entanto, tem chance razoável de ser apenas pontual, ressalta. “A desconfiança é grande. Se tivemos dificuldade de aprovar o Orçamento, que é ação corriqueira e sazonal, o que significa isso para as reformas?”, questiona a profissional.

Após o fechamento dos mercados, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), informou que o governo deve cortar R$ 10,5 bilhões em emendas de relator do Orçamento. A parlamentar também previu gastos da ordem de R$ 100 bilhões fora da meta de resultado.

O alívio entre os participantes de mercado não é uníssono. “Para recuperar sua credibilidade fiscal, o país precisa recolocar a dívida pública em trajetória convergente. Preservar o teto, mas criar gastos por fora não resolve o problema. É como uma pessoa que gasta mais do que ganha abrir um novo cartão de crédito para resolver o problema”, escreveu em seu perfil no Twitter o gestor do Opportunity Total, Marcos Mollica.

Para Marcos Weigt, diretor de tesouraria do Travelex Bank, mesmo não sendo a solução ideal, o alívio se justifica dado que o real é a moeda mais desvalorizada no momento. “Por outro lado, dado que a pandemia está longe de acabar e a pressão por gastos vai continuar, não acredito que entramos em um cenário benigno, que possa nos levar em direção aos R$ 5,00”, pondera.

Na bolsa, o forte avanço dos papéis da Petrobras (5,03% a ação ON e 5,80% a PN) não impediu o Ibovespa de fechar, após ajustes, em baixa de 0,15%, aos 120.934 pontos, depois de tocar 121.974 pontos na máxima do dia. Outros pesos pesados do índice tiveram queda firme, em um ajuste após o bom desempenho recente: Vale cedeu 0,82%; Itaú PN caiu 1,50%; Bradesco ON recuou 1,23%; Bradesco PN cedeu 0,45% e Banco do Brasil ON teve queda de 0,50%.

Em relação às ações da maior estatal brasileira, o avanço se deu após o novo presidente, Joaquim Silva e Luna, defender a manutenção da política de preços de combustíveis e afirmar que empresa deve buscar retorno de capital. “Foi um discurso de continuidade nos principais pilares: alocação de capital, desinvestimentos e política de preços”, diz Tiago Sampaio Cunha, gestor de ações da Grou Capital. Ele reforça que o discurso inicial “foi bom”, mas é preciso verificar como será a atuação, de fato, no dia a dia da companhia, principalmente em possíveis momentos de pressão do governo contra o aumento de preços de combustíveis.

Para Leonardo Morales, gestor de ações do ASA Investments, o salto nos papéis da Petrobras foi intensificado ontem pelo exercício de opções sobre ações e o fundamento da empresa não mudou apenas por causa do discurso do novo CEO. Mas, dependendo da atuação do executivo no futuro, há espaço para a ação andar.

Ele destaca que a ação da companhia opera atualmente com um múltiplo de aproximadamente 3,5 vezes o EV/Ebitda - cálculo que mede quantas vezes uma empresa vale ante seu lucro operacional. Esse resultado está abaixo do verificado pelo setor, que gira com múltiplo de 5 vezes, e da própria média histórica da estatal brasileira, de 4,3 vezes.


Reprodução da matéria publicada no “Valor Econômico”, 20/04/2021.